No Brasil, a sociedade civil está dando uma contribuição enorme para as investigações do atentado de domingo (8), e por um caminho semelhante ao usado nos Estados Unidos para chegar aos vândalos do Capitólio.
Um crime registrado em detalhes. Diante das câmeras dos seus próprios celulares, vândalos zombando das instituições, debochando da lei e se gabando de fazer parte de atos terroristas. Pessoas que no domingo (8) se orgulharam de participar da barbárie, menos de 24 horas depois, se tornaram a vergonha de amigos, da família, dos empregadores, de um país que escolheu o caminho da democracia.
A necessidade de mostrar que fizeram parte da invasão e da destruição dos prédios públicos serviu para que os golpistas se exibirem nas redes sociais. Mas, principalmente, esses extremistas criaram provas contra eles e ajudaram a Polícia Federal a identificar cada um dos participantes dos atos em Brasília. A sociedade foi fundamental no trabalho de garimpagem nas redes para mostrar quem são esses criminosos.
Ainda no domingo (8), logo depois do começo da invasão, foi criado na internet o perfil @contragolpebrasil. Em pouco tempo, já eram mais de 900 mil seguidores enviando fotos e a identificação dos invasores com informações vindas de todo o país.
O Ministério da Justiça e a Polícia Federal também criaram e-mails para receber informações sobre os participantes dos atos terroristas de domingo. Entre os identificados, até agora, estão autoridades, policiais, políticos, militares que passaram o domingo na Esplanada.
Uma foto tirada entre os golpistas é de Wallace França, policial legislativo do Senado, ex-delegado de Mato Grosso do Sul. Também no Congresso, Pâmela Bório, ex-primeira-dama da Paraíba e suplente de deputado federal, gravou tudo.
Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, sobrinho do ex-presidente Jair Bolsonaro, mostrou que esteve no alto da rampa do Congresso. Em um outro registro, o vereador Gilson, do Cidadania, de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em frente ao Congresso Nacional, o capitão reformado da Marinha José Wilmar Fortuna, ex-assessor do Ministério da Defesa. Outro que divulgou imagens de dentro do Palácio do Planalto, foi o ex-vice-prefeito de Pancas, no Espírito Santo. No vídeo, Marcos Alexandre Matavelli de Morais relata a invasão.
A servidora da Empresa Brasileira de Comunicação, a EBC, Flavia Caroline Eller, foi exonerada depois de fazer transmissões ao vivo durante a invasão.
“Ao divulgar, estimulando os atos antidemocráticos, esses autores criaram provas contra si e, com certeza, a polícia poderá acessar esse conteúdo, que está público nos mais variados perfis nas redes sociais, e conseguir encontrar esses autores desses absurdos ataques ao próprio Estado Democrático de Direito”, explica o especialista Luiz Augusto D’Urso.
O especialista em crimes cibernéticos diz ainda que pessoas que aplaudem, apoiam e incitam atos terroristas pelas redes também vão contra a lei.
As fotos e os vídeos que os criminosos se orgulharam tanto de mostrar se espalharam pelo mundo e nunca mais se apagam, inclusive das páginas policiais.
Sobre o policial legislativo Wallace França, a assessoria do Senado afirmou que os policiais adotaram técnicas de negociação para as quais foram treinados como objetivo de arrefecer os ânimos e proteger suas próprias vidas. O Senado declarou ainda que esse policiais ajudaram a efetivar a prisão de todos os manifestantes.
O vereador Gilson, de Betim, declarou que participava com a família da manifestação, que deveria ser pacífica e ordeira, mas que se retirou quando percebeu o tumulto.
Leonardo Rodrigues de Jesus disse que repudia qualquer vandalismo e não compactua com atos violentos.