O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) lançou uma nota sobre a enchente do Rio Taquari entre os dias 4 e 5 de setembro, a segunda maior da história do manancial – atrás somente da cheia de 1941.
No texto, o instituto argumenta que seria possível prever, sim, a intensidade da enchente pelo volume de chuvas sobre a bacia do Taquari-Antas.
“O que aconteceu é que a cadeia de ações de prevenção, preparação e alerta dos impactos da inundação não funcionou adequadamente”, sustentam os especialistas que assinam a nota. “As pessoas permaneceram nas suas casas até o instante em que já era tarde demais para sair”, constata o texto, sobre os danos materiais e humanitários dessa catástrofe ambiental.
- LEIA A NOTA COMPLETA AQUI
Segundo o professor do instituto da UFRGS Walter Collischonn, que é natural de Lajeado, reforçou o teor da nota. O doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental disse que “a nota foi motivada pelo contraste entre o que aconteceu e as condições com que funcionaram as medidas de prevenção e o contrate com relação ao que poderia ser feito, caso a gente tivesse um sistema de monitoramento mais adequado e um mapeamento das áreas inundáveis mais adiantado”.
“Do ponto de vista físico, a água que acabou atingindo a região de Lajeado a gente teria condições de estimar com razoável antecedência porque leva um tempo para essa água viajar ao longo da bacia. Um local como Lajeado, por exemplo, teria várias horas disponíveis para a gente calcular. Hoje em dia, a gente tem as ferramentas técnicas para isso. Não funcionou porque a gente tem um monitoramento precário, um monitoramento disperso entre várias instituições. Aparentemente, não há uma sintonia, um compartilhamento adequado de informações”, argumenta.
“Sem uma previsão adequada, começou a falhar a comunicação. O rio vinha subindo e não se sabia o que estava acontecendo”, observa. “A gente precisa rever isso aí”, defende.
Conforme Collischonn, a população do Vale do Taquari é acostumada com enchentes, porém, em proporções menores, que se repetem ao longo dos anos. Cheias dessa magnitude e impacto, são três que se tem registro nos últimos 150 anos. “Mas isso não está na memória das pessoas”, ressalta, sobre a experiência histórica e empírica, vivenciar na prática esse volume todo de água.
“A causa da cheia repentina foi a grande intensidade e característica do Rio das Antas e seus afluentes”, descreve Collischonn. A geografia da região e da Bacia Taquari-Antas faz com que haja alta declividade e muita velocidade das águas.
“A quantidade de águas que chegou em Lajeado, Muçum, Encantado não tem nada a ver com as barragens. Absolutamente nada a ver com as barragens. Essas barragens são absurdamente pequenas para o tamanho que tem uma cheia como essa”, analisa.