Em um encontro com mais de 200 pastores e pastoras evangélicos em São Paulo na manhã da quarta-feira, 19, o candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou a Carta-Compromisso com os Evangélicos.
Com esse gesto, o candidato busca contornar um impasse que se criou na campanha. Lula não queria instrumentalizar o sentimento religioso em favor de sua candidatura.
Para superar esse impasse, entraram em cena a senadora Eliziane Gama (Cidadania/MA) e a deputada federal eleita Marina Silva (Rede/SP).
Evangélicas como a deputada federal Benedita da Silva (PT/RJ), elas estão participando ativamente da campanha para ajudar a reduzir a rejeição do presidenciável entre esses eleitores.
Na segunda-feira, 17, cerca de 300 padres e religiosos e religiosas católicos se reuniram com o candidato para declarar abertamente o seu apoio ao petista no segundo turno das eleições presidenciais que ocorrem no próximo dia 30.
A exemplo da Carta aos Brasileiros em 2002, esse documento que sela o compromisso com as lideranças religiosas é o aceno mais forte do petista aos evangélicos desde o início da eleição.
No segmento, além de estar em grande desvantagem, Lula tem sido sistematicamente atacado com fake news que atribuem ao ex-presidente a suposta intenção de fechar igrejas e espalham mentiras sobre temas sensíveis como legalização do aborto e até a adoção de banheiros unissex nas escolas – nova versão de fake news que flertam com o absurdo, como a do kit gay, difundidas pelo mundo bolsonarista na eleição anterior.
Lula disse que o documento que assinou foi feito em respeito aos evangélicos “que lutam contra as mentiras” que são constantemente espalhadas durante as eleições.
“Não é a primeira vez que tenho que enfrentar mentiras. Anos atrás, já tive que explicar por que a bandeira do PT é vermelha, por que eu uso barba. Teve até uma igreja que distribuiu 1 milhão de jornais na primeira eleição contra mim”, lembrou.
Para o candidato, cada vez mais as acusações se tornam mais absurdas. “Agora inventaram a história do banheiro unissex”.
Na cerimônia, o deputado federal eleito pelo PSol do Rio de Janeiro, Henrique Vieira, pastor da igreja Batista do Caminho, parafraseou passagens bíblicas sobre dar de comer e beber aos que têm fome e sede.
“Se o nosso inimigo tiver ódio, daremos amor”, finalizou Vieira. Durante o culto, o candidato teve a cabeça tocada por uma criança que fez uma oração. Lula chorou.
Credibilidade das igrejas
Ariovaldo Ramos, pastor da Igreja Batista de Água Branca (Ibap) e coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, disse lamentar que Lula tenha que ir a um encontro com evangélicos para dizer que não vai fazer algo que nunca fez quando foi presidente e tampouco ameaçou fazer quando em campanha, disse, referindo às afirmações falsas de que Lula pretende fechar igrejas. “Isto é um absurdo”, protestou.
Para Ramos, no entanto, o encontro serviu também para mostrar que os presentes quiseram deixar claro que estão “do lado da verdade”.
“O senhor nunca fechou igrejas, sempre nos tratou bem, sempre teve respeito com todas as religiões. Nós temos a responsabilidade de sair daqui para consagrar a verdade e dizer o que sabemos. Temos aqui um projeto que defende os pobres e as viúvas”, afirmou, lembrando que essa pauta sempre esteve presente na Bíblia.
Após uma série de “améns” e “glória a Deus”, Ramos continuou. “Estamos aqui contra as fake news que estão sendo usadas para dividir o nosso povo e porque acreditamos que o seu projeto é o melhor para o Brasil e, também, para recuperar a credibilidade das igrejas evangélicas do Brasil”, manifestou.