A Polícia Civil indiciou, no dia 24 de janeiro, uma médica por lesão corporal gravíssima em suposto erro médico de superdosagem de medicamento que deixou o jovem Alexandre Moraes de Lara em estado vegetativo em um hospital de Porto Alegre. O caso foi remetido ao Ministério Público, que pediu investigações complementares antes de analisar o inquérito.
O indiciamento de Erika Bastos Schluter foi por ação culposa, quando há negligência, imprudência ou imperícia. A médica foi afastada do Hospital Humaniza logo após o caso. O advogado Flávio de Lia Pires não concorda com o resultado do inquérito e diz que a cliente foi induzida ao erro.
“Quando ela viu que foi alertada que seriam 20 comprimidos, ela foi ao sistema do hospital pra ver se realmente a dosagem que estava sendo fornecida era de 30 gramas, e lá ela constatou que era 30 gramas. Por isso foi feita aplicação dessa forma. A falha é totalmente do hospital ou do sistema, se for um sistema terceirizado, da farmácia do hospital”, afirma.
A direção do Hospital Humaniza diz, em nota, que o caso ocorreu na administração anterior, que os profissionais envolvidos não trabalham mais na unidade e que presta suporte ao paciente. Leia a nota abaixo.
Alexandre tinha 28 anos quando deu entrada no hospital para tratar um problema cardíaco. No entanto, em vez de receber dois comprimidos de propafenona, o paciente recebeu 20 – 10 vezes mais. O remédio, indicado para controlar batimentos do coração, acabou provocando uma parada cardiorrespiratória. Um laudo assinado por um médico contratado pela família afirma que o estado vegetativo de Alexandre tem grande potencial de ser permanente.
A família de Alexandre entrou com um processo contra o Hospital Humaniza e segue aguardando uma indenização para cobrir despesas com o tratamento. O caso dele é considerado irreversível.
Relembre
O caso ocorreu em outubro de 2021. A esposa de Alexandre estava junto dele quando foi aplicada a superdosagem da medicação. Ela disse ter questionado o técnico de enfermagem, que confirmou a dosagem, indicada por uma médica. Pouco depois, o rapaz passou mal.
Segundo a família, o médico cardiologista deu a receita correta, e o primeiro erro aconteceu na farmácia do hospital.
“A farmácia, na hora de cadastrar o medicamento, cadastrou errado. Ao invés de cadastrar como 300 miligramas, que era o correto, cadastrou como 30 miligramas. Então, ao invés de tomar os dois comprimidos que ele deveria, ele tomou 20 comprimidos”, disse Gabrielle.
Um prontuário assinado pelo diretor-executivo do hospital apontou o erro da equipe. Segundo o documento, “a medicação dispensada pela farmácia do hospital era divergente da dosagem registrada no sistema e da prescrição médica”. O médico indicou 600 miligramas ao paciente, mas o hospital deu 6 mil miligramas.
A família ainda reclamou do atendimento de urgência oferecido pelo hospital. Segundo o tio, Luciano Pacheco Martins, a equipe demorou mais de cinco minutos para socorrer Alexandre.
“A médica não sabia orientar os enfermeiros ou técnicos do procedimento, se tinha que fazer intubação, se não tinha. O equipamento para respirar que eles foram utilizar estava faltando uma peça, então não deu para utilizar, ajudou a faltar oxigênio. O medicamento, que era adrenalina, que tinha que ser dado, não foi dado no tempo adequado”, relatou.
Gabrielle recorda que o marido era ativo fisicamente e que gostava de surfar e ir à academia. Ela, que estava grávida na época do ocorrido, diz que Alexandre não entende quando vê a filha.
“Eu estava grávida de três meses quando aconteceu. Agora eu levo a Sara, filha dele, ali para vê-lo, mas ele não entende nada”, contou, emocionada, em 2022.