Cerca de um ano após as primeiras investigações contra um homem acusado de aplicar o golpe do namoro na Serra do Rio Grande do Sul, novos relatos vêm à tona. Desta vez, uma mulher de Caxias do Sul relata ter perdido cerca de R$ 100 mil após um relacionamento com Guilherme Selister, réu por estelionato em casos semelhantes.
O advogado Marcos Peroto, que representa Selister, afirma que se manifesta “apenas em juízo, até em respeito às vítimas, em razão do sigilo”.
Segundo a mulher, de 32 anos, que prefere não ser identificada, Guilherme fingia ser médico em hospitais de Caxias e Porto Alegre. O relacionamento durou, entre idas e vindas, cerca de dois anos, quando já havia notícias sobre as suspeitas contra o acusado.
“Eu pensei que as pessoas mudam e que podem corrigir os erros. Mas ele tem uma lábia muito boa, é um legítimo conquistador”, diz.
O caso é apurado pela 1ª Delegacia de Polícia de Caixas do Sul. O delegado Vitor Carnaúba confirma que o inquérito está em andamento, mas prefere não dar detalhes em meio às investigações.
Nas redes sociais, após a repercussão dos casos, ele passou a utilizar o nome de Guilherme Galante, que, segundo a mulher que denuncia o golpe, seria o sobrenome da família do acusado.
Início do namoro
Segundo a mulher, o relacionamento com Guilherme começou entre agosto e setembro de 2020, quando eles se conheceram através de um aplicativo de relacionamento. Na sequência, eles trocaram contatos e, semanas depois, tiveram um encontro pessoal em Caxias do Sul.
O investigado dizia ser médico-cirurgião em um hospital na Serra e em outro centro de saúde em Porto Alegre. Por conta de supostos plantões, os namorados se encontravam esporadicamente.
“Depois do nosso encontro, a gente começou a se ver a cada 15 dias”, conta.
O relacionamento terminou em dezembro de 2020, por mensagens via aplicativo. De acordo com a mulher, Guilherme dizia que ela não era madura.
Ela voltou a procurar Guilherme em abril de 2021, quando reataram o relacionamento. Meses depois, o acusado disse à jovem que estava doente e que precisaria de ajuda financeira dela para custear o tratamento. A história é semelhante às contadas por ele a outras supostas vítimas do golpe.
“Pra mim, ele contou a história de que tinha um câncer de testículo. Ele achou um assunto muito fácil pra me iludir”, diz a mulher.
Pedidos de dinheiro
Conforme a vítima do golpe, Guilherme disse que precisaria fazer quimioterapia para tratar do câncer que dizia ter. O suposto médico recusou indicações dela, alegando que preferia fazer o tratamento em São Paulo. Por isso, pediu R$ 16 mil à mulher.
A mulher diz ter feito um empréstimo bancário para ajudar Guilherme. Foi então que ele manifestou o interesse de formalizar a relação.
“Ele agradeceu, disse que nunca imaginou que eu pudesse ajudar ele. Aí ele quis oficializar o namoro, disse que queria conhecer os meus pais. Eu, toda boba, trouxe ele aqui pra casa”, afirma.
O primeiro encontro com a presença dos pais dela terminou mais cedo. Guilherme foi à casa da família da moça vestindo um uniforme de socorrista do Samu. Ele deixou o local após receber uma suposta ligação urgente, de que deveria voltar ao trabalho, conta a mulher.
Depois disso, dois novos empréstimos de R$ 16 mil foram feitos. Os namorados romperam mais uma vez, após ela descobrir que ele tinha fotos com outra mulher.
“Eu andei descobrindo umas fotos dele com outra menina e fui tirar satisfação. No dia 1º de novembro de 2021, ele terminou comigo, dizendo que ia me pagar os empréstimos. Pagou só três parcelas”, relata.
Outros casos
Em todos os casos, as histórias se repetem de forma parecida. Guilherme Selister manteria relacionamentos amorosos com mulheres dizendo ser médico ou profissional de saúde, como nutricionista, além de militar das Forças Armadas. Alegando problemas neurológicos, ele solicitava dinheiro para custear os supostos tratamentos.
Em liberdade, Selister responde a processos em Guaporé, onde ele teria ficado seis meses com uma mulher, recebido dinheiro para custear um suposto tratamento de saúde; em Farroupilha, onde uma mulher relata ter perdido R$ 80 mil para ele; e, em Caxias do Sul, onde outra jovem diz ter perdido R$ 60 mil para o investigado.