A ausência de chuvas nos períodos de plantio e desenvolvimento das lavouras é um dos principais problemas dos agricultores. No entanto, uma solução inusitada tem ajudado a reduzir a seca: a semeadura ou o bombeamento de nuvens a partir de aviões. A tecnologia pode ajudar o agronegócio a superar longas estiagens, que estão se tornando comuns em razão das mudanças climáticas.
Apesar de pouco conhecida, a técnica é antiga. Desde 1940, o cientista atmosférico norte-americano Bernard Vonnegut já estudava um modo de estimular a formação de chuva. Em um primeiro experimento, utilizou partículas de iodeto de prata para congelar nuvens super-resfriadas de vapor-d’água e transformá-las em neve em laboratório.
No entanto, a formação de neve não faz parte do ciclo de formação da chuva. Então, o cientista aprofundou os estudos e descobriu um processo termodinâmico capaz de provocar a precipitação. Vonnegut concluiu que a introdução de gotículas de água, provocando a colisão entre elas, poderia promover a formação de gotas de chuva.
Como o avião faz chover?
A técnica descoberta por Vonnegut vem sendo utilizada com sucesso para provocar chuvas com aviões em diversas aplicações civis e militares. No entanto, a precipitação induzida necessita de condições meteorológicas mínimas. A área a ser “semeada” precisa ter nuvens do tipo cumulus, geradas pela transpiração de água da terra e de plantas.
Para provocar as chuvas, um avião decola com água potável em gotículas de tamanho entre 50 e 70 micrometros em direção ao centro das nuvens. Durante 20 a 40 minutos, a aeronave promove a “semeadura”, lançando cerca de 30 a 50 gotículas por centímetro quadrado em regime de turbulência.
As gotículas lançadas começam a subir carregadas por correntes verticais de ar e colidem com outras gotículas de maior volume que estão descendo, fazendo com que as nuvens cresçam verticalmente e promovendo a formação de gotas de chuva.
Quando existe uma formação suficiente de gotas, a indução realizada pelo avião provoca a precipitação na área escolhida. Ao cair e ser absorvida pelo solo e pelas plantas, a água é evaporada e contribui para a constituição de novas nuvens, que podem ser induzidas novamente.
No processo, diferente de outras técnicas, não é utilizado nenhuma substância química. O avião acelera o processo natural de formação de nuvens e contribui para a ocorrência do ciclo hidrológico natural.
Aplicação das chuvas induzidas por aviões no agronegócio
Desde 2005, a tecnologia foi utilizada para ajudar a induzir 11,5 bilhões de litros de chuva no sistema Cantareira, responsável pelo fornecimento de água de 9 milhões de pessoas na região metropolitana da capital paulista. Mais recentemente, em 2021, aviões foram utilizados em um projeto de pesquisa para elevar os níveis de reservatórios de abastecimento do Paraná.
Mas a técnica também pode ajudar produtores agrícolas. A Modclima, empresa especializada no uso da tecnologia no Brasil, atua em 20 projetos agrícolas. A companhia contribuiu para reduzir o déficit hídrico em lavouras de soja, milho, abacaxi, banana e cana-de-açúcar nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Paraná, Pernambuco e São Paulo.
Os projetos são customizados conforme a necessidade hídrica, o histórico climatológico da região, a situação da cultura e a área total de semeadura. Para serem viáveis economicamente, os voos precisam de um território-alvo para a chuva de, no mínimo 30 mil hectares, que pode englobar uma ou mais propriedades.
Fonte: University of Albany, Modclima.