O Rio Grande do Sul deve amargar mais de 50% de perdas na safra de laranja, bergamota e limão deste ano devido à tragédia climática. A estimativa foi divulgada pelo diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Luis Bohn, nesta quarta-feira, em reunião extraordinária da Câmara Setorial da Citricultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
“A citricultura foi uma das culturas mais prejudicadas, com queda de frutas e desfolhamento, entre outros problemas”, citou Bohn.
De acordo com o coordenador da Câmara Setorial e presidente da Associação Montenegrina de Fruticultores, Pedro Wollmann, os problemas em consequência da calamidade climática são de diferentes gravidades no Vale do Caí.
“Cerca de 80% dos citricultores foram atingidos diretamente e tiveram perda total ou parcial. Nunca se viu tamanho prejuízo na história da citricultura gaúcha”, definiu Wollmann.
Um dos maiores problemas está na produção dos citros precoces. A alta umidade acarretou perda de 70% nas bergamotas Caí e Ponkan. Já as variedades tardias apresentam rachaduras e doenças fúngicas. Também foram verificadas perdas em Bento Gonçalves e Veranópolis.
“Nos preocupa a capacidade de resiliência das plantas em manter os frutos, que estão soltando. A citricultura tem uma janela longa de cultivo, começa com variedades precoces e vai até setembro e outubro. Pela experiência de campo que tenho, as chuvas alcançaram todas as que estão em frutificação”, salienta o diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Claudinei Baldissera.
Antes das enchentes que varreram diversos municípios da Depressão Central do Estado, havia a previsão de quebra de 40% sobre as 268 mil toneladas de laranja. O prognóstico se devia à grande perda de flores dos pomares durante as chuvas da primavera de 2023. A cultura é realizada em 14,5 mil hectares, sendo 3,95 mil hectares somente nos Vales do Caí e Taquari. Já a projeção para a safra de bergamotas era de 164,5 mil toneladas, sendo 122 mil toneladas dos Vales do Caí e Taquari. A região também reponde por 80% das 18 mil toneladas de limão produzidas anualmente pelo RS.
Anistia e prorrogação de dívidas
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) anunciou, na reunião, que solicitará a anistia para o pagamento de financiamentos realizados, principalmente, pelos produtores do Vale do Caí que foram atingidos também pelas duas enchentes de 2023.
As instituições financeiras presentes ao encontro, Sicredi, Banrisul e Banco do Brasil, manifestaram amplo apoio aos produtores gaúchos, seja por meio da prorrogação de prazos ou de novos créditos rurais com juros subsidiados.
Representantes da citricultura pediram que o governo estadual apoie os produtores dos municípios mais atingidos com horas/máquina e doação de insumos. Além disso, ressaltaram a necessidade de manter e ampliar o Programa de Recuperação de Solos, capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural após as cheias de 2023.
Alerta para o greening
Um ponto quase unânime abordado foi a preocupação com a falta de mudas e com o ingresso de mudas não autorizadas e sem controle de outros estados.
“Essa é uma aflição dos produtores de Pareci Novo também, por causa do risco da entrada do greening no Rio Grande do Sul”, relatou o coordenador da Câmara de Citricultura do Vale do Caí, Ivan Streit.
A preocupação destacada também pelo diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Seapi, Ricardo Felicetti. De acordo com ele, uma Instrução Normativa da Seapi está em desenvolvimento para disciplinar a aquisição de mudas de citros de outros estados.
“Gostaria de sugerir que qualquer aquisição seja endossada pela Seapi, para evitarmos o ingresso do greening e de outras doenças no Rio Grande do Sul”, salientou Felicetti.