Na sexta-feira, (3), terceiro dia de julgamento dos quatro réus denunciados pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) por 242 homicídios com dolo eventual na tragédia da boate Kiss, quatro pessoas foram ouvidas. O júri, que começou na quarta-feira, 1º de dezembro, no Foro Central de Porto Alegre, tem como réus Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da Kiss, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, da banda Gurizada Fandangueira.
O primeiro a depor foi o administrador da loja Kaboom, Daniel Rodrigues da Silva, que vende fogos de artifício em Santa Maria. Foi neste estabelecimento que Bonilha Leão, produtor da banda, comprou o artefato pirotécnico que desencadeou a tragédia em 27 de janeiro de 2013.
À promotora Lúcia Helena Callegari, ele confirmou que a nota fiscal juntada ao processo e mostrada em plenário é da loja em que trabalha. Nela consta os artefatos vendidos ao grupo musical.
O depoente confirmou que, no dia da venda, o funcionário da loja alertou Bonilha Leão sobre o risco que o artefato outdoor, solicitado pelo produtor, representava se usado em local fechado. E que o réu respondeu não ter problema, pois tinha experiência e treinamento para usá-lo. Respondendo ao promotor de Justiça David Medina da Silva, a testemunha afirmou que a chama do Sputnik, composto por pólvora, tem chama alta, próxima de 1,5 metro. Era um dos produtos que constava na nota fiscal de venda.
Arrolada pelo MPRS como testemunha, mas ouvida como informante, por decisão do juiz, após contestação da defesa do réu Mauro Hoffman, Gianderson Machado da Silva prestou esclarecimentos sobre situação dos extintores de incêndio da boate. O depoente tralhava em uma empresa de Santa Maria que prestava serviço à casa noturna. Aos promotores disse que, ao realizar troca de extintores para recarga, não encontrou todos nos lugares previstos e precisou procurar pela casa noturna. Disse, ainda, que havia extintores sem lacre ou violados, o que coloca o equipamento em risco.
O último depoimento do dia foi do policial militar Érico Paulus Garcia, que, à época, trabalhava de barman na Kiss. Disse que viu o incêndio se iniciar logo após o réu Marcelo erguer um artefato pirotécnico em direção ao teto. Também confirmou o que o MPRS sempre sustentou desde o início do processo: que Elissandro e Mauro tomavam decisões em conjunto.
Sobre a espuma que, em combustão, liberou fumaça tóxica, afirmou que ajudou a colocá-la. Segundo ele, o material foi colado no gesso acima do palco a pedido de Elissandro.
Também foi ouvido Pedrinho Antônio Bortoluzzi, testemunha arrolada por uma das defesas. O júri será retomado às 9h deste sábado, 4 de dezembro.