Desde 2019, os produtores gaúchos sofrem com os efeitos do La Niña, que tem entre as suas principais características o volume baixo de chuva. Sem água, lavouras e animais são prejudicados, assim como a renda de centenas de famílias que vivem do campo. Números divulgados pela Emater/RS dão uma dimensão dos prejuízos. Em três anos de estiagem, 32 milhões de toneladas de grãos foram perdidos em razão do tempo (veja dados abaixo).
Na propriedade da Marinês e do Jorge Penz, em Passo Fundo, no norte do Estado, a lavoura de 7 hectares de milho foi comprometida em mais de 50%.
— Nós já estamos há três anos e meio na míngua. O milho do ano passado foi pior do que neste ano. Hoje já é um pouquinho melhor, tomara que no ano que vem a gente chegue a 180, 200 sacas por hectare, e soja, 80, 70. Isso seria muito bom — comenta Jorge.
A boa notícia é que institutos de meteorologia e especialistas afirmam que o La Ninã deixou o Brasil e que neste momento as águas do Oceano Pacífico estão em aquecimento. Isso significa que são grandes as chances do retorno do El Niño, caracterizado por períodos mais frequentes de chuva. A presença do fenômeno deve ocorrer a partir da próxima primavera.
— Precisamos estar atentos. A nossa sociedade como um todo acha que vai chover muito acima da média, mas não, a gente sempre tem de olhar esse padrão de aquecimento, o que significa isso. Para nós termos um El Niño clássico, é necessário que grande parte dessas águas lá do Equador estejam aquecidas — explica Cátia Valente, meteorologista da Climatempo.
O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Gilberto Cunha explica que, em razão da possibilidade de chuva, principalmente em relação às culturas de inverno, é fundamental o manejo do solo e o planejamento adequado.
— Principalmente o trigo, mas também vale para a cevada, granola, entre outras. É o momento de diluição de riscos, de diversificação das épocas de semeadura, de cultivares diferentes. É importante não esquecer da adesão a um programa de seguridade rural, seja privado ou público — salienta Cunha.
Caso o El Niño realmente se confirme, os meteorologistas afirmam que ele poderá durar de três meses a seis anos.
Perdas na produção de grãos
- 2019/2020: 9.950.197 toneladas
- 2021/2022: 13.752.196 toneladas
- 2022/2023: 9.108.543 toneladas
- Total: 32.810.936 toneladas
Fonte: Emater