Terça-feira (1º), 19 horas. Policiais da Brigada Militar de Estância Velha trocavam seus turnos. O que poderia ser mais uma noite de trabalho rotineiro, poucos minutos depois transformou-se em uma ocorrência inédita para um policial de 46 anos, com quase 20 anos de serviço. Cerca de três quilômetros dali, uma menina de seis anos e seus pais, proprietários de uma agropecuária, eram vítimas de um assalto a mão armada, que poderia ter terminado em tragédia.
O policial, que preferiu não se identificar, conta que uma pessoa passava pela Avenida Walter Klein quando viu o proprietário de uma agropecuária ser rendido pelos assaltantes no momento em que ele fechava o estabelecimento, e acionou a polícia. Quase no mesmo momento, um outro policial, que está de férias, também viu a ação e desconfiou de um carro próximo com um homem dentro. Ao fazer a abordagem, este outro agente constatou que o motorista estava ali para realizar a fuga dos assaltantes, e o deteve.
A BM deslocou uma guarnição para o local com dois militares, um homem e uma mulher. O PM conta que no momento que se aproximou da entrada, com o fuzil em mãos, os criminosos tentaram sair pelos fundos do local, mas não havia saída. “Eu falei para eles deixarem as armas no chão e virem para fora, que poderiam ficar tranquilos pois nada iria acontecer a eles. Mas não adiantou, eles estavam dispostos a fugir e ficavam mandando eu me afastar”, conta o policial.
Em seguida, os dois assaltantes usaram a família como escudo para passar pelos policiais. “Esse foi um momento inédito pra mim, o assaltante pegou a vítima pelo pescoço e colocou a arma na cabeça dele, dizendo que ia atirar. Nisso, eu fui caminhando para trás e fui para a rua, quase fui atropelado”, detalha o militar.
Ao ver que o comparsa do carro já estava rendido, os dois tentaram fugir com a viatura da Brigada Militar. “Foi um momento muito delicado, eu não tinha visão para atirar e eles queriam a chave da viatura que estava comigo. Falei que eles poderiam fugir com o carro deles, para mim, o importante era ter a família em segurança, a criança estava com muito medo”.
Neste momento a situação começou a ficar mais tensa. O homem que rendia o proprietário do comércio passou a ameaçá-lo, caso o policial não desse a chave. “Tudo foi muito rápido, são coisas que acontecem numa fração de segundos e só quem passa por isso consegue entender. Então, no momento que ele colocou o refém dentro da viatura, ele me perdeu de vista e então eu atirei”, relembra. A ação durou cerca de dois minutos, e ao ver o companheiro baleado, o outro assaltante decidiu se render.
Por fim, o PM disse que fica feliz em saber que a família não sofreu nenhum ferimento, mas que “o certo era ninguém morrer. Nossa missão é salvar vidas, inclusive dos meliantes. A todo o momento dei a opção de se entregarem e até de fugir, mas é um caminho que eles escolhem”, afirma. Ele também fez questão de enaltecer a atuação dos colegas. “Só eu apareço nas imagens gravadas, mas foi um trabalho em conjunto. Graças a Deus eu tinha eles comigo, dando cobertura. E também preciso agradecer à Guarda Municipal que foi ao local em seguida”, finaliza.